De mãos dadas – ou não

O primeiro olhar dado para a Ciência, seja pelos próprios cientistas, seja pela sociedade, é romântico: não a vê como uma atividade construída por mulheres e homens preocupados com os impactos sociais de suas pesquisas, mas também com o sucesso e o reconhecimento, suscetíveis à vaidade, inveja, afeto, orgulho, amor, com prazos a serem cumpridos e contas a serem pagas. A Ciência Positivista se compreende como um empreendimento não humano, quase divino, em que apenas valores científicos interferem.

Nesta obra, inspirada pela perspectiva do Construtivismo Científico, enxergamos a Ciência como processual, fruto de acasos, oportunidades, esforços, tão dependente do que é considerado “banal” como do que é considerado nobre. Dessa forma, tanto a sala para a realização do encontro do grupo de pesquisadores quanto a emergência de novos paradigmas para a área estudada interferem no resultado. E no processo envolvente e dinâmico da produção do conhecimento, a orientação ainda é pouco debatida, compreendida, analisada.

No modelo hegemônico de produção de dissertações e teses no país, a orientação é obrigatória. Jovens pesquisadoras e pesquisadores não caminham sozinhos. Idealmente, seguem de mãos dadas com cientistas mais experientes, que indicam caminhos e sinalizam riscos. Mas como se dá esse processo? Quais seus limites e possibilidades?

Não há dissertação ou tese sem objeto, sem metodologia e sem orientação. Sabemos de antemão que os objetos são difíceis de serem recortados; a metodologia é uma aliada e/ou uma ameaça,  mas a orientação é o aspecto silencioso, silenciado e desconhecido desse jogo. Afinal: o que é orientar? Por que orientamos? Por que somos orientados?

Neste livro, estudantes de doutorado da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília conversam com orientadores e orientadoras da área, trocando confidências sobre essa relação tecida em alguns casos com muito afeto, em outros, de forma mais pragmática. Percebem que frequentemente há muita alegria em orientar, mas também dor e preocupação, já que  os resultados não são previsíveis e a experiência aponta caminhos, mas não se traduz em fórmulas. Buscam as marcas da Comunicação nesse processo, uma área jovem, muitas vezes insegura quanto a seus métodos e teorias, cujos objetos são fugazes e às vezes desaparecem antes mesmo de se concluir a pesquisa.

Se os erros na seleção do objeto ou do método são facilmente identificados, os problemas na orientação, que também têm grande impacto sobre o resultado da pesquisa, estão mais camuflados. De fato, há uma ausência de indicadores que demonstrem como e quando o processo é bem-sucedido. Aqui não tentaremos estabelecer um tipo ideal de orientação, mas mostrar diferentes estilos, e destacar alguns dilemas muito frequentes, como os limites da autonomia do orientando e da orientanda, o surgimento de  discordâncias teóricas e metodológicas no desenvolvimento do estudo, e o aspecto psicanalítico que frequentemente essa parceria assume.

Ao falar o que não é dito, ao dar importância e materialidade a essa relação, acreditamos contribuir para o aprofundamento das pesquisas sobre as pesquisas em Comunicação, em busca de uma área mais forte e consolidada, e de pesquisadoras e pesquisadores mais felizes.

Elen Geraldes

Francisco Verri

Gisele Pimenta

Maíra Moraes Vitorino

Paulo Giraldi

Vinícius Pedreira